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Matéria publicada no Portal ABCR em 29.01.2014

Escrito por Portal ONSV

29 JAN 2014 - 17H34

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José Aurelio Ramalho, Presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária

José Aurélio Ramalho - “Pelos levantamentos realizados até setembro de 2013, acreditamos que o número de mortos em todo país vai diminuir em 1% a 2% em relação a 2012, mas o que chama à atenção são os números de feridos e sequelados, que devem ser quase 30% maior."

O presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, em entrevista à Agência ABCR, avalia importantes aspectos relacionados com os problemas do trânsito no Brasil e defende a criação da Agência Nacional de Segurança Viária.

Agência ABCR – Levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária referente a 2012 indica que o número real de mortos e feridos no Brasil, vítimas de acidente de trânsito, foi maior que os registrados por dados e estatísticas oficiais. Como o Observatório chegou a esse resultado?

José Aurélio Ramalho: O Brasil possui atualmente inúmeras fontes de dados e premissas de mapeamento dos acidentes de trânsito. Cada órgão que acompanha estas informações adota critérios e fontes diversas, o que ocasiona leituras divergentes e controversas. O Observatório Nacional de Segurança Viária vem desenvolvendo um banco de dados que, segundo diversos cruzamentos e análises de fontes de dados internas e externas, tem o objetivo de definir uma leitura que reflita, em números, um cenário mais realista possível do trânsito Brasileiro. Cabe salientar que nossa preocupação não se limita a encontrar estes números tão somente, mas sim evidenciar a importância deste tema que trata de vidas. Atualmente nossa base de dados utilizada está sustentada na indenização por ocorrências de acidentes de trânsito, onde o Observatório analisa a base de dados da Seguradora Líder DPVAT e da Polícia Rodoviária Federal, e tem como resultado uma primeira fotografia dos acidentes de trânsito no Brasil. Mas não paramos apenas nesta análise, cruzamos outras fontes que possibilitam uma sensível melhora nesta interpretação.

Agência ABCR – Com relação a 2013, já existe alguma indicação se essa realidade piorou ou melhorou?

José Aurélio Ramalho: Pelos levantamentos realizados até setembro de 2013, acreditamos que o número de mortos em todo país vai diminuir em 1 a 2% em relação a 2012. Porém, o que está nos chamado à atenção são os números de feridos e sequelados. Esse número deve ser quase 30% maior que o ano passado. Isso é alarmante. Estamos construindo uma “indústria de feridos” e, consequentemente, para a Previdência Social, uma indústria de aposentados precoce, com mais de 60% dos leitos hospitalares ocupados com acidentados de trânsito, estando a maioria das ocorrências concentrada na faixa etária entre 18 a 34 anos. É preciso a realização de ações mais efetivas de toda sociedade organizada e também do poder público para que possam ser feitas mudanças nesse cenário.

Agência ABCR  Nas últimas décadas, vários países adotaram políticas públicas que reduziram o número de vítimas no trânsito. Quais foram as medidas que surtiram efeito tão positivo e em qual país o Brasil poderia se inspirar e por qual motivo?

José Aurélio Ramalho: Trânsito não tem uma receita pronta. Tudo depende do modal viário, da cultura local, dos governantes, da mobilização da sociedade. Países como a Espanha e a Austrália, que há algumas décadas tinham cenários bem parecidos com os que hoje o Brasil apresenta, investiram na formação do condutor, em campanhas de conscientização, uma eficiente fiscalização e punição rigorosa. Esses três fatores, bem aplicados, transformaram a realidade no trânsito nesses países. A questão é que, no Brasil, não temos um compromisso político sério e voltado para a questão do trânsito. O próprio organograma das entidades públicas e privadas que cuidam de trânsito não sabe bem o que fazem ou onde atuam. Tudo isso precisa ser revisto.

Agência ABCR – Na sua avaliação, qual a importância da criação de um sistema nacional de informações sobre acidentes de trânsito que pudesse servir como base para implantação e avaliação de políticas públicas de prevenção de acidentes? Quais seriam, hoje, os maiores entraves para a criação desse sistema nacional?

José Aurélio Ramalho: Para se tratar uma doença, é preciso de um diagnóstico preciso. Ou seja, não é possível tratar o trânsito com um remédio único, para capitais, interior, para carros, para pedestres, para motoristas ou motociclistas da mesma forma. Portanto, enquanto não houver uma base única de dados, análises, interpretações, e, a partir daí, projetos de mudança nos pontos mais vulneráveis, não vamos mudar esse cenário catastrófico que hoje encontramos. O Observatório Nacional de Segurança Viária encaminhou ao Governo Federal a proposta de criação da Agência Nacional de Segurança Viária. A intenção é que essa agência aglutine todas as informações e catalise as ações através de profissionais capacitados (técnicos/especialistas) para analisar a situação de cada município. Só depende da vontade política.

Agência ABCR – Quais as principais causas de acidentes de trânsito no Brasil e como as autoridades e órgãos ligados a essa verdadeira tragédia nacional poderiam atacar o problema?

José Aurélio Ramalho: São várias as causas dos acidentes. Hoje, o Observatório elencou duas principais causas que têm sido trabalhadas exaustivamente em várias frentes: o excesso de velocidade e o uso do celular ao volante. Essas duas causas são as que mais preocupam nossos técnicos. O desrespeito com a sinalização de limite máximo de velocidade nas vias e a negligência com a atenção ao volante (no caso do celular) devem ser combatidos firmemente pelos órgãos fiscalizadores e ser motivo de campanhas permanentes por parte dos nossos governos. Somente dessa forma conseguiremos conscientizar a todos que dirigir acima da velocidade mata e falar ao celular dirigindo é mortal, em qualquer situação. Estamos trabalhando junto ao Congresso Nacional para implantação da “fiscalização ponto a ponto”, que se demonstrou eficaz em alguns países, ou seja, fiscalizar a velocidade média na via.

Agência ABCR – A Lei Seca surgiu como uma medida capaz de diminuir o número de pessoas que bebem e dirigem em seguida, aumentando o risco de acidentes nas rodovias e cidades brasileiras. O senhor acredita que o brasileiro já superou a fase em que ainda temia as blitze e poderia ser punido por beber e dirigir? Por que os motoristas brasileiros não levam a sério e não cumprem a legislação de trânsito?

José Aurélio Ramalho: Porque não temos uma cultura de segurança viária instalada no nosso país. As pessoas não têm respeito, não têm consciência e não são punidas. Todos esses fatores criam essa situação de insegurança, imprudência, imperícia e negligência no trânsito.

Agência ABCR – Ações de incentivo à educação para o trânsito seriam importantes para melhorar esse cenário?

José Aurélio Ramalho: Claro. Tudo começa com a educação. Porém, é difícil educar quem já passou dos 30 ou 40 anos. Nesse caso, a punição rigorosa e a conscientização permanente podem fazer com que a sociedade exija do cidadão prudência e respeito com quem transita. A educação é fundamental, desde os primeiros anos escolares.

Agência ABCR – Quanto ao processo de habilitação dos condutores, é possível sugerir alguma inovação no que se refere ao incentivo à segurança e direção defensiva?

José Aurélio Ramalho: Solicitamos uma audiência pública na Comissão de Viação e Transporte e na Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, presidida pelo Deputado Hugo Leal, onde após longos debates, o Observatório ficou como responsável em coletar as propostas de diversas entidades para a elaboração de uma Lei de Diretrizes e Bases para Formação do Condutor, com previsão de entrega deste escopo até final de fevereiro de 2014.

Agência ABCR – O que mais motiva os motoristas a não cumprir a legislação do trânsito: a falta de fiscalização, a sua má formação ou a impunidade?

José Aurélio Ramalho: Acredito que seja um pouco de tudo isso que você citou e ainda temos notado que a falta de informação também tem sido identificada em vários fóruns nos quais atuamos. Não usar o cinto no banco de trás de um veículo é algo comum em qualquer cidade ou estrada desse país. Para a maioria dos cidadãos com quem o Observatório tem a oportunidade de falar e mostrar as consequências do não uso do cinto, é praticamente unânime a mudança de atitude. Saber que o motorista, que está com cinto no banco da frente do carro, pode ser esmagado por um adulto que esteja atrás sem o equipamento de proteção é tenebroso. A maioria dos motoristas passa a exigir a colocação do cinto, não porque está na lei, mas, sim, para sua segurança. Portanto, a falta de informação sobre as consequências de um comportamento inseguro também faz parte desse cenário trágico do trânsito do nosso país.

Fonte: Portal ABCR

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