Projeto das estudantes Maria Clara Suguinoshita e Gabriela Rolim Ribeiro Valeixo, teve como professor orientador o Dr. Jorge Tiago Bastos e venceu a Categoria VI - Segurança Viária e Veicular
O projeto “Fatores determinantes para o excesso de velocidade em vias arteriais urbanas”, trabalho de Conclusão e artigo científico do Curso em Engenharia Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná), de autoria das estudantes Maria Clara Suguinoshita e Gabriela Rolim Ribeiro Valeixo, que teve como professor orientador o Dr. Jorge Tiago Bastos, venceu a Categoria VI - Segurança Viária e Veicular. Destinada aos alunos ou profissionais de engenharia, arquitetura e urbanismo, no Prêmio Denatran 2021. O projeto utilizou a base de dados de um outro estudo desenvolvido em parceria com instituições nacionais e internacionais, entre elas, o OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária (ONSV).
A cerimônia de premiação das categorias foi realizada no Ministério da Infraestrutura, em Brasília/DF, no dia 28 de setembro. O Prof. Tiago Bastos, do Departamento de Transportes da UFPR (Universidade Federal do Paraná), é coordenador da Cooperação Técnica da universidade com o OBSERVATÓRIO e integrante do Núcleo de Infraestrutura do ONSV e destaca a importância do projeto da orientanda.
“É um projeto maior, em que a gente monitora o comportamento de vários condutores, por meio de câmeras, GPS, medição da velocidade, então a gente consegue com esse projeto, abordar uma série de fatores de risco. Com o trabalho dela, focamos o excesso de velocidade, mas a gente também tem outras aplicações, por exemplo, distrações ao volante, uso do telefone celular, outros fatores determinantes para o excesso de velocidade. Então a gente tem uma equipe de alunos de graduação e pós-graduação, professores, há entre 15 e 20 ao todo, trabalhando em torno desse projeto”, frisou.
Segundo declarou Maria Clara Suguinoshita, “quando surgiu a oportunidade de fazer essa pesquisa, que é o primeiro estudo de condução naturalística do Brasil, eu fiquei bastante empolgada, achei uma pesquisa bem prática que vai ajudar bastante em medidas assertivas para a segurança viária.”
O Prêmio Denatran é uma ação incorporada ao Departamento Nacional de Trânsito desde o ano 2000, cujo objetivo é incentivar a sociedade brasileira a realizar produção técnica, científica e artística, laureando os melhores trabalhos. A intenção é que os participantes do certame, e a população em geral, possam refletir a respeito da necessidade de adoção e a sedimentação de hábitos e comportamentos que tornem o trânsito mais seguro, civilizado e humano, com o objetivo de reduzir o número de sinistros, mortos e feridos em todo o território nacional.
Assista ao encerramento da Semana Nacional de Trânsito e à entrega do Prêmio Denatran 2021. (trecho da premiação, a partir de 2:11:31):
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FATORES DETERMINANTES PARA O EXCESSO DE VELOCIDADE EM VIAS ARTERIAIS URBANAS
LEIA O RESUMO DO TRABALHO
O excesso de velocidade está entre os principais fatores de risco para a ocorrência e severidade dos sinistros de trânsito. O entendimento das motivações para a prática do excesso de velocidade é fundamental para o planejamento de ações preventivas e de intervenções no sistema viário voltadas à gestão da velocidade. Apesar da escolha da velocidade de condução ser uma decisão essencialmente comportamental, os fatores viários também são capazes de influenciar na incidência do excesso de velocidade. Essa influência pode se dar por meio de aspectos físicos e operacionais das vias.
O objetivo da pesquisa foi avaliar a influência de características físicas e operacionais de vias arteriais urbanas na prática do excesso de velocidade. A metodologia empregada consistiu em um estudo de caso das vias arteriais do eixo estrutural Norte-Sul do sistema viário de Curitiba, Paraná. Foi utilizada a base de dados do primeiro Estudo Naturalístico de Direção Brasileiro, uma iniciativa piloto no país que monitora a tarefa real e cotidiana de condução de indivíduos sem influência na realização e trajeto das viagens. O projeto do Estudo Naturalístico de Direção Brasileiro é coordenado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com outras instituições nacionais e internacionais, e conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária (ONSV), da empresa Mobi7 e da própria UFPR. Atualmente, o estudo já conta com uma amostra de 25 condutores e segue continuamente coletando dados.
Mais informações sobre a pesquisa podem ser encontradas no endereço do Centro de Estudos em Planejamento e Políticas Urbanas da UFPR: http://www.tecnologia.ufpr.br/portal/ceppur/estudo-naturalistico-de-direcao-brasileiro/. Para este estudo de caso foi utilizado um recorte amostral de oito condutores monitorados por aproximadamente duas semanas entre agosto e novembro de 2019.
O Estudo Naturalístico de Direção Brasileiro foi desenvolvido seguindo o princípio de protótipo de mínimo valor, ou seja, com o uso de um conjunto de equipamentos de baixo custo para a instrumentação dos veículos. Foram instaladas três câmeras, sendo duas delas apontadas para o exterior do veículo e uma apontada para o interior do veículo, um computador portátil, um inversor de voltagem para a alimentação da plataforma e um receptor GPS (Global Positioning System) para registro da velocidade instantânea, segundo a segundo.
Após o tratamento dos dados, verificou-se o tempo em que havia oportunidade de exceder a velocidade, tendo em vista que em situações de fluxo interrompido não há oportunidade de praticar velocidades elevadas. Portanto, tais situações não foram consideradas para o cálculo do percentual do tempo de condução sob excesso de velocidade. A parcela do tempo em que os condutores excederam a velocidade foi classificada em excessos superiores a 10%, 20% e 30% a partir do limite de velocidade regulamentar. O método da Regressão Logística Binária foi aplicado para gerar modelos capazes de explicar a relação entre um conjunto de fatores viários (isoladamente ou combinados) na prática do excesso de velocidade, sendo avaliada a permissão de estacionamento, a existência de radar e semáforo, e o número de faixas de tráfego.
Os resultados estatisticamente mais consistentes indicam a presença de dispositivo de fiscalização eletrônica de velocidade (radar) como fator favorável ao respeito ao limite de velocidade, sendo a chance de não exceder a velocidade cerca de três vezes maior quando há o radar. Esse resultado permitiu confirmar a hipótese lógica de que a presença do radar evita o excesso de velocidade e que isso ocorre isoladamente ou em combinação com outras variáveis explicativas. A punição financeira automática pelo excesso de velocidade na passagem por um radar gera um comportamento de obediência, fazendo com que os limites de velocidade sejam respeitados pela ampla maioria dos condutores.
A proibição de estacionamento também favoreceu o respeito aos limites de velocidade, de modo que, quando o estacionamento é proibido, a chance de não exceder a velocidade foi cerca de duas vezes maior. Entretanto, é importante considerar que a proibição de estacionamento se trata de uma regra operacional flexível, ou seja, o estacionamento é proibido nos dias úteis, das 07h às 20h e aos sábados das 7h às 14h, justamente em função da maior demanda de tráfego. Dessa forma, a influência no comportamento é mais associada à densidade da corrente de tráfego, que é maior nos horários de proibição de estacionamento, desfavorecendo o excesso de velocidade.
A pesquisa permitiu concluir que a modelagem matemática apoiou a obtenção de informações relevantes sobre a influência das variáveis explicativas no excesso de velocidade. A compreensão da influência de radares, semáforos, regras de estacionamento e número de faixas na prática do excesso de velocidade contribui para um planejamento mais efetivo de ações de melhoria na segurança das vias urbanas. Tais ações devem compor uma estratégia de gestão da velocidade nos municípios com base em intervenções físicas e operacionais na infraestrutura viária e, ainda, de medidas de sensibilização da população em relação aos riscos do excesso de velocidade em áreas urbanas, principalmente para aqueles usuários mais vulneráveis.
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