Sinistro de trânsito com ônibus, carreta e carro deixa 38 mortos em Minas Gerais. Mais uma tragédia que está aí diante da realidade brutal das nossas estradas: o descaso que mata. Enquanto os corpos ainda são retirados das ferragens, começa o ritual do jogo de empurra-empurra. O governo estadual diz que é um problema da União, os órgãos federais culpam os estados pelas suas estradas e as prefeituras alegam que não têm competência para agir. Todos se apressam em se eximir de qualquer responsabilidade, como se a tragédia fosse fruto do acaso e não do abandono sistemático da infraestrutura rodoviária. Nesse teatro do absurdo, enquanto os gestores discutem de quem é a culpa, vidas seguem sendo perdidas. Diante disso, quanto custa uma vida?
A falta de manutenção nas rodovias brasileiras é um crime, contínuo, mas invisível aos olhos de quem deveria agir. Buracos que se multiplicam, acostamentos inexistentes, sinalização apagada ou ausente — tudo isso compõe um cenário que diariamente nossas estradas transformam em armadilhas mortais. O mais revoltante é o abandono da segurança viária pelos órgãos responsáveis. Melhorar a segurança em pontos críticos não traz visibilidade política. Ajustar um trecho perigoso ou reforçar a sinalização não rende manchetes, não atrai holofotes e, na lógica de quem prioriza o poder, não vale o esforço. Construir novas rodovias ou promover obras grandiosas se torna prioridade porque dá palco para cerimônias, placas de apresentação e projeções eleitorais. Enquanto isso, as estradas que já existem continuam a ceifar vidas. Diante disso, quanto custa uma vida?
A fiscalização nas rodovias é praticamente inexistente e os resultados são catastróficos. Caminhões trafegam com excesso de peso, veículos circulam sem as mínimas condições de segurança, motoristas inabilitados continuam atrás do volante, e tudo isso ocorre sob os olhos fechados dos órgãos responsáveis. Os postos de fiscalização são poucos, e os que existem muitas vezes funcionam precariamente, sem recursos ou ineficientes. A quem interessa esse descontrole? Talvez isso se beneficie de um sistema que priorize a economia sobre a segurança, ignorando que o custo real é pago em vidas humanas. Sem fiscalização eficaz, as estradas tornam-se um território sem lei, onde a negligência reina e o risco é inevitável. É uma realidade revoltante que reafirma a pergunta que ecoa em cada tragédia: Quanto custa uma vida?
Os responsáveis não estão apenas ao volante; estão nos escritórios, nas repartições públicas, aprovando cortes nos orçamentos e ignorando relatórios técnicos. Cada vítima dessa tragédia carrega o peso da negligência de quem deveria protegê-la, mas escolheu virar as costas. Orçamentos para segurança viária são sistematicamente deixados de lado, tratados como despesas dispensáveis, enquanto vidas humanas pagam o preço dessa negligência. Implementar contramedidas eficazes, como dispositivos de contenção longitudinais e pontuais, melhorias na sinalização ou correções em trechos críticos, são considerados"caros demais" para os cofres públicos. Empresas que conseguiram realizar essas intervenções recusaram projetos menores, pois preferem lucrar em grandes obras que movimentam cifras bilionárias. A segurança viária ainda é vista como piada por muitos gestores, relegada a um segundo plano como se fosse uma preocupação menor. Essa mentalidade é um desrespeito a quem sofre nas estradas todos os dias. O poder público precisa ser responsabilizado por essa escolha deliberada de ignorar a proteção dos usuários das rodovias. Afinal, até quando vidas serão descartadas com tanta indiferença? Diante desses cortes, já é possível se dizer quanto custa uma vida?
O acidente que tirou 38 vidas em Minas Gerais é mais uma tragédia que chama atenção pela brutalidade, mas não é um caso isolado. Diariamente, em todas as partes do Brasil, centenas de acidentes acontecem, ceifando vidas e destruindo famílias, sem sequer serem noticiados. Histórias de motoristas anônimos que nunca terão seus nomes lembrados, vidas apagadas em um sistema rodoviário falido, onde o descaso é regra e não exceção. Esses incidentes de trânsito, deixados de lado pela mídia e pelos órgãos públicos, não são menos importantes; são a prova silenciosa de um país que normalizou o problema nas estradas. Não deveria ser assim. A morte de 38 pessoas ou de uma só é um alerta para uma realidade que não pode mais ser ignorada.
Se é caro prevenir, mais caro ainda é pagar o preço das perdas irreparáveis. O poder público promete mudanças no calor das tragédias, em discursos que parecem ensaiados, mas nada realmente muda. Os dias passam, o incidente de trânsito é arquivado, e a negligência retorna como regra, perpetuando um ciclo de morte e abandono. Essa é a verdade cruel de um sistema que, se reage apenas quando é tarde demais, que só envelhece diante da pressão, mas volta a ignorar o essencial assim que os holofotes se desligam.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um sinistro com vítima fatal custa aos cofres públicos, cerca de 665 mil reais. Mas, agora, eu pergunto diretamente a você: Quanto custa sua vida?
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