A reportagem da última terça-feira (19), do jornal DW Brasil - Deutsche Welle emissora internacional da Alemanha - alertou para o 3º ano seguido de alta de mortes no trânsito brasileiro. Para avaliar o atual cenário de mortes no trânsito brasileiro, a reportagem consultou Jorge Tiago Bastos, professor do Departamento de Transportes da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e coordenador do acordo de cooperação técnica entre a universidade e o OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária.
A mortalidade no trânsito brasileiro vem crescendo constantemente nos últimos cinco anos, desde 2019. O total de mortes passou de aproximadamente 32 mil em 2019 para cerca de 34 mil em 2022, último ano com dados disponíveis no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), mantido pelo Ministério da Saúde. É a inversão de uma tendência: entre 2014 e 2019, a quantidade de mortes caía ano após ano. Agora, são três anos seguidos de subida.
A reversão coloca o Brasil ainda mais longe de alcançar um objetivo estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): a de reduzir pela metade os números de mortes no trânsito no mundo até 2030. O país não é um caso isolado: mais de 60 nações registraram um aumento da mortalidade no trânsito na última década.
Segundo uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não foram só avanços em fiscalização e infraestrutura que reduziram as mortes na década passada. A crise econômica, que diminuiu o número de veículos nas ruas e estradas, também teve influência.
Agora, com a economia crescendo aproximadamente 3% ao ano, há o temor de que aconteça o contrário. “Com o reaquecimento econômico, essas taxas vão subir”, previu Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, um dos autores da publicação.
O pesquisador, no entanto, acredita que a mortalidade não deve retornar aos piores níveis caso seja observada uma condição: o investimento em políticas de segurança no trânsito.
Carvalho afirma que algumas das medidas que evitaram um aumento ainda mais vertiginoso das mortes no trânsito no Brasil entre 2000 e 2014 foram a redução dos limites de velocidade, a concessão de rodovias com melhoria de infraestrutura e mais rigidez para punir e multar infratores. "Se houver um afrouxamento das políticas punitivas, os impactos começam a aparecer", disse.
Onde as mortes têm crescido mais?
Desde que o total de mortes voltou a crescer, o aumento se concentra nas regiões Norte e Centro-Oeste. O crescimento é mais intenso em estados como Mato Grosso, Roraima, Rondônia e Amapá.
No início da década passada, quando a mortalidade atingiu patamares recordes antes de começar a cair, um aumento significativo também acontecia no Nordeste. De 2019 para cá, porém, os estados nordestinos apresentam estabilidade na taxa de mortes – ainda que em um nível alto.
Na comparação com outras partes do país, a frota de veículos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste só cresceu mais recentemente. "Historicamente, essas regiões tinham uma taxa de motorização menor devido ao nível de desenvolvimento mais baixo", disse Jorge Tiago Bastos, professor da UFPR e membro do Conselho Deliberativo do OBSERVATÓRIO. “E quando o desenvolvimento não se dá de maneira organizada, pode levar a um aumento do número de mortes”.
O desenvolvimento desordenado, combinado a outros fatores, cria um cenário preocupante. "Os locais onde morrem mais pessoas também são locais onde o sistema de saúde tende a ser pior, a formação do condutor é pior, as condições das rodovias são piores", disse o professor.
Outro fator importante é a composição da frota: em alguns estados, há uma proporção maior de motocicletas. Como elas são mais baratas que outros tipos de veículo, geralmente há uma quantidade maior em regiões mais pobres.
As motos são o modo de transporte que mais causam mortes no país, proporcionalmente. Em caso de colisão, não há nada protegendo o corpo do condutor. Assim, os acidentes costumam ser mais graves.
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Foto: Oslaim Brito/TheNEWS2/Zuma/picture aliance/Divulgação.
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