J. Pedro Corrêa
Consultor em programas de segurança no trânsito
O mês de maio chegou e com ele, duas oportunidades para mobilizar a sociedade brasileira pela segurança no trânsito: o 8º Movimento Maio Amarelo que tem se firmado através de centenas de eventos pelo país afora, incentivado pelo OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária (ONSV) e Denatran e a 6ª Semana Nacional de Segurança no Trânsito, de 17 a 23 de maio, promovida em todo o mundo pela ONU (Organização das Nações Unidas) e OMS (Organização Mundial da Saúde).
O Maio Amarelo deste ano tem como tema “Respeito e Responsabilidade: Pratique no Trânsito”, enquanto que a semana da ONU/OMS é voltado para o “Gerenciamento da Velocidade”, valendo para todos os países do mundo.
Estou abordando este assunto para servir como um lembrete a todos aqueles que se envolvem nestes movimentos e que, assim, possam se organizar com mais de tempo e produzirem trabalhos com melhor resultado. Vejo sentido neste alerta porque infelizmente boa parte dos brasileiros deixa as coisas para a última hora e por isso nem sempre consegue levar a cabo o que gostaria de fazer “por falta de tempo”. Tanto o evento do ONSV como o das entidades internacionais, representam excelentes oportunidades que não podem ser desperdiçadas por não ter havido tempo suficiente para organizá-las.
Não sei se vocês concordam, mas me parece que o tema proposto pelo ONSV, Respeito e Responsabilidade no Trânsito, incentiva mais a uma reflexão individual e não incentiva tanto a comunidade a organizar eventos maiores para envolver toda a sociedade. Enquanto isso, o Gerenciamento da Velocidade, proposto pela ONU/OMS é bem mais direto e instiga a todos – sociedade e governantes – a um esforço conjunto para atacar uma das mais letais causas de sinistros no trânsito no mundo inteiro.
Como o OBSERVATÓRIO tem grande rede de adeptos por todo o Brasil e o tema da velocidade diz respeito a qualquer lugar do mundo, parece ser uma ideia interessante juntar os dois temas num só movimento e fazer do mês inteiro de maio um trabalho de maior profundidade em favor do trânsito nacional. Caberá aos coordenadores do OBSERVATÓRIO avaliarem os argumentos contra o excesso de velocidade para dar mais robustez ao discurso do respeito e responsabilidade.
O que o ONSV propõe aos brasileiros é pensar e fazer por todos os demais usuários do trânsito com respeito e responsabilidade, se colocando no lugar do outro, tornando a mobilidade sem violência, mais humana e consequentemente um espaço de convívio educado e democrático. Bonito, mas convenhamos, tarefa extraordinária considerando o movimento atual por que passa a sociedade brasileira e as incríveis demandas no processo de formação cívica do nosso povo. Seja como for, é um objetivo a ser alcançado e para isto precisa contar com a participação de todos.
Já o tema da velocidade, apesar de ser desafiador, tem a vantagem de poder ser enfrentado com mecanismos já conhecidos, mas não ainda suficientemente bem utilizados: bons programas de educação, trabalho intenso de mudanças de comportamento, controle rígido de velocidade e, por fim, punição aos infratores. É bom não esquecer que uma das maiores garantias do respeito às leis, é a certeza da punição aos que não as respeitam. Dito de outra forma, é a certeza da impunidade que leva à repetição das infrações.
Nos últimos anos tem sido observado em países mais avançados um grande número de cidades reduzindo velocidade em áreas residenciais ou outros setores urbanos e com isto baixando sensivelmente o número de sinistros. Isto também tem acontecido em várias cidades brasileiras, como comentei num artigo escrito na segunda quinzena de janeiro deste ano. Creio que o número de bons exemplos brasileiros vá se multiplicar a partir deste ano com a chegada de novos prefeitos e que buscam soluções para seus problemas urbanos.
Para estes, repito dois lembretes da OMS para enfatizar a importância da redução da velocidade: segundo a Organização Mundial da Saúde “Aumentar 1 km/h na velocidade média dos veículos resultará em aumento de 4-5% nos acidentes fatais”. Por outro lado, na via inversa, “um corte de 5% na velocidade média pode resultar em uma redução de 30% no número de acidentes fatais no trânsito“. Isto não é palpite, é resultado de análises técnicas, conduzidas por instituições de pesquisas altamente qualificadas da Europa.
Assim, aproveito para incentivar novamente os interessados na segurança no trânsito a se prepararem desde já para os eventos do mês de maio – o Maio Amarelo, do ONSV/Denatran e a 6ª Semana Nacional de Segurança, da ONU/OMS. Unir o respeito e responsabilidade ao gerenciamento da velocidade não será apenas a otimização de uma boa ideia como pode motivar as cidades brasileiras a buscar um lugar melhor no ranking do nosso trânsito.
O Brasil precisa sair da posição desconfortável em que se encontra o seu trânsito no cenário internacional e a sociedade brasileira não aguenta mais tanta dor e sofrimentos, motivados em grande parte pelo desinteresse das autoridades e das lideranças que não têm sido sensíveis aos anseios da população.
J. Pedro Corrêa
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