Assunto frequente em rodas de discussões, em grupos de WhatsApp, o trânsito é capaz de despertar paixões, acirrar ânimos, em especial quando o tema abordado envolve sua fiscalização de trânsito.
Muitos alegam que os órgãos ou entidades executivos de trânsito deveriam educar e não autuar, pois o que visam é apenas arrecadar, dentre outras inúmeras afirmações.
Correntes e vídeos nas redes sociais chamam a atenção para novos valores de autuações (quase sempre inverídicas) e pontos em que a fiscalização de velocidade se faz como pegadinha, ainda que as placas de velocidade máxima permitida estejam localizadas de acordo com a norma.
A despeito de tudo isso, ao transitar em nossas ruas, avenidas e rodovias, o que notamos é o comportamento contumaz inadequado dos condutores de diversos tipos de veículos.
Transitar na contramão de direção pelo interior de postos de combustíveis para economizar alguns metros no trajeto, mesmo que isso represente colocar pedestres em riscos, são comportamentos freqüentes.
O excesso de velocidade impera dentre as principais infrações visualizadas, seguidas de perto pela condução e manuseio do celular, sendo que em muitos dos casos temos ambas.
O descaso com o transporte de crianças no interior do veículo é freqüente, agravado em determinados casos com o mal estado de conservação do veículo.
Dias desses visualizamos um automóvel com cinco crianças no banco traseiro, o veículo sem qualquer tipo de amortecedor na suspensão traseira, a balançar acentuadamente apenas com as molas e o condutor com fone nos ouvidos. Em caso de acidente, certamente iria causar comoção, mas essa é uma tragédia anunciada.
É certo que a crise que assola nosso país causa reflexos no trânsito, em veículos que por questões diversas de seus condutores não apresentam boas condições, mas não podemos tolerar que vidas sejam expostas ao risco de tal maneira, assim como o cometimento de infrações seja justificado pelo mau exemplo de terceiros que ocupam postos importantes na direção do país.
Pode parecer clichê, mas o trânsito como espaço compartilhado deve necessariamente ser regido por regras que devem ser respeitadas por todos, a todo o momento, afinal de contas, quando um acidente acontece, tudo o que dele demanda é suportado pela sociedade, seja no tempo de deslocamento perdido, pelos prejuízos suportados pela saúde pública, assistência e previdência social.
Basta de compartilhar informações que colocam em cheque ações que podem salvar vidas, e que possamos cada um, através de nossas ações, mudar o cenário de guerra com mortos e feridos graves que vivenciamos em nosso trânsito.
Renato Campestrini é advogado especializado em legislação de trânsito e gerente-técnico do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária
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