Dr. José Mauro Braz de Lima, PhD.
Nestes dias de carnaval em todo país, sobretudo Rio de Janeiro, Salvador, Recife, entre outras cidades, o clima de festa e de alegria envolve grande parte da população em uma das maiores festas populares do mundo, levando milhões de pessoas para ruas e avenidas para brincar e se divertir. Deste modo, vale ressaltar que uma movimentação de recursos financeiros e de atividades correlatas gera significativo aumento de postos de trabalho e empregos, diretos e indiretos, devido ao afluxo de foliões e turistas nacionais e estrangeiros.
Segundo dados do próprio governo, estima-se que no período das festas, só no Rio de Janeiro, deverão ser injetados na economia local, mais de 1 bilhão de reais no comércio e serviços em geral, como reflete a elevada taxa de ocupação na rede hoteleira, por exemplo. Deve-se notar que esse movimento vem crescendo ano a ano, sobretudo com a promoção dos chamados blocos de rua, tradição resgatada dos antigos carnavais que está voltando em muitas cidades com grande força. Hoje são muitos blocos “Bola Preta”, micaretas e trios elétricos arrastando multidões pelas ruas das cidades desse “alegre e festivo país”. Mesmo passando, nesse momento, por séria e grave crise política e econômica, boa parte da população não deixa de brincar. É para pensar, mas hoje é Carnaval...!
Todavia, associado aos festejos carnavalescos, o elevado consumo de bebidas alcoólicas, sobretudo de cerveja, é garantido através da maciça propaganda, apesar da Lei 9.294/1996. Assim, liberada para a livre e autorizada distribuição para milhões de foliões dos blocos de rua - com a conivência e apoio através de contratos com entidades públicas - o álcool torna-se parte integrante e indispensável das festas. Como é sabido de todos, o consumo de álcool representa grande fator de risco para os diversos problemas relacionados, como, por exemplo, brigas e violências, os acidentes pessoais ou de trânsito.
Naturalmente, como médico, fica fácil verificar a situação das emergências dos hospitais lotados de casos decorrentes do consumo abusivo de bebidas registrados nos “boletins de ocorrências” (BOs). Seria de grande interesse médico-social, se as Secretarias de Saúde, estaduais e municipais, fizessem levantamento sobre esse impacto nos hospitais públicos durante esse período como diagnóstico epidemiológico: número e perfil dessa população atendida, custos desses atendimentos clínicos e cirúrgicos, leitos ocupados nas enfermarias (e nos “corredores”) e nos CTIs por vítimas de intoxicação e outros distúrbios clínicos, acidentes pessoais e de trânsito, traumatismos secundários dos conflitos de violência, etc..
As delegacias são o outro lugar onde se pode constatar registros de ocorrências ligadas ao uso abusivo de álcool, casos de mortes nos IMLs, decorrentes da violência pessoal ou dos acidentes
de trânsito. Neste preocupante cenário, é importante destacar a participação crescente de jovens e mulheres (tão consumidoras quanto os homens!), alvos preferenciais da maciça propaganda da indústria de cerveja, como se pode observar nas mesas (e calçadas) dos bares das cidades e dos blocos. Um forte e competente marketing dessa indústria trabalha na indução da banalização do consumo.
Embora, sejamos levados a considerar a cerveja como bebida alcoólica “mais fraca”, separadamente das outras bebidas alcoólicas ditas quentes. O seu teor alcoólico é de 5%, na dose padrão (de 300 ml) e a quantidade de álcool puro (etílico, ou etanol) é praticamente, a mesma encontrada numa taça de vinho (teor de 10 a 12%) ou numa dose de cachaça, de vodka ou de uísque (teor de 40%). Sendo assim, há 15 a 17 ml de álcool puro por dose padrão (vinho, 150 ml, cachaça, vodka ou uísque, 40 ml).
Esse aumento do consumo, destacando a participação de jovens e mulheres, fez com que o Brasil passasse a ocupar o 3º lugar de maior produtor mundial de cerveja, ultrapassando a Alemanha em 2012, com uma produção atual de mais de 15 bilhões de litros/ano, em torno de 7% da produção mundial. O nosso consumo per capta no Brasil, em torno de 75 lts/pes/ano não chega a ser o maior da América Latina, mas considerando as grandes cidades como Rio e São Paulo, sobretudo nesses dias de carnaval, estima-se que o consumo pode chegar a 130 ou 140 lts por pessoa. Na mesma proporção, aumentamos riscos relacionados ao consumo abusivo de álcool. Não é difícil verificar que as consequências e os prejuízos, humanos e materiais, são muitas vezes maiores do que se imagina, no balanço final dessa contabilidade de perdas e danos. Mas, tudo bem, “hoje é carnaval...”
Assim, nesses dias de Carnaval, é oportuno e necessário chamar a atenção para os riscos do abuso de bebidas alcoólicas em geral, mormente de cerveja, por ser, de longe a mais consumida e promovida através de estratégias de marketing facilitadoras de maior disponibilidade e mais fácil acesso através da distribuição dentro dos próprios blocos de rua. Além dos locais ou pontos comuns de venda na cidade. O cidadão comum ou os foliões, não têm como escapar dessa “corda de blocos” de rua induzidos a consumir “numa boa”, a cerveja preferida (e oficial do Carnaval carioca).
Portanto, sem querer botar água no chopp de ninguém, e lembrando para beber com moderação, não podemos deixar de fazer a nossa parte enquanto profissionais de saúde e de educação, ou como cidadão comum. O aumento dos problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas poderá ser verificado mais uma vez este ano, sendo que, apesar de pequena e irrisória redução pontual do número de acidentes e de vítimas fatais dos acidentes de trânsito, ainda somos referência mundial pelo maior número de mortos e feridos nas estradas, sendo que a maior parte dos acidentes envolve álcool. Isto se traduz em mais de 50 mil mortes/ano e cerca de quase 500 mil feridos/ano. Boa parte dos leitos nas emergências e nos CTIs dos hospitais estará sendo ocupada, nesses dias, por casos decorrentes desses acidentes e violências em tempos de folia.
Enfim, amplas campanhas de conscientização e de prevenção, como a do Ministério da Saúde sobre a AIDS e a Dengue, devem ser incrementadas como iniciativas não só das autoridades competentes, mas, também, como ações dos diversos atores da sociedade civil organizada. Neste sentido, vale lembrar como referência que a Polícia Rodoviária Federal (PRF), na Operação de Carnaval de 2014, registrou 3 149 acidentes, sendo 1 793 feridos e 157 mortos nas estradas federais, durante os 6 dias, grande parte relacionados com consumo de bebidas alcoólicas. Em 2015, segundo a própria PRF, constatou-se significativa diminuição desses números: 2.785 acidentes nas estradas federais, 120 morte e 1.786 feridos.
A Lei Seca (Lei nº 11 705/2008), sem dúvida, vem contribuindo de modo significativo para a redução dos acidentes de trânsito. Contudo, o número de vitimas fatais é ainda muito grande e aumenta no geral ano a ano, chegando hoje, em 2016, a mais de 50 mil vítimas fatais, sendo mais da metade envolvida com o consumo de álcool (25 mortes/100 mil habts/ano), número bem acima dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde – OMS - (menos de 8 a 10/100 mil habts/ano).
Considerando que somos signatários da “Campanha Mundial da Década de Segurança Viária 2011 – 2020” da ONU, temos uma grande responsabilidade na prevenção e redução dos riscos e das deletérias consequências do abuso de álcool, além, da prevenção direta dos acidentes de trânsitos que sempre aumentam no Carnaval. Mesmo assim, ... “não me leve a mal, hoje é carnaval!"
AGENTES DE TRÂNSITO CONTAM COM ADICIONAL DE PERICULOSIDADE COM NOVA LEI
No dia 20 de setembro, entrou em vigor a Lei 14.684, legislação que representa um marco importante na proteção e reconhecimento das atividades desempenhadas pelos Agentes das Autoridades de Trânsito em todo o Brasil. A conselheira do Cetran (Conselho Estadual de Trânsito), consultora em gestão de frotas e projetos de mobilidade urbana e Observadora Certificada, Mércia Gomes, destaca a mudança significativa na lei para esses profissionais.
USO DE CELULAR AO VOLANTE É UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE INFRAÇÕES NO PARANÁ
O programa Paraná em Pauta, da TV Paraná Turismo, afiliada à TV Brasil, da última segunda-feira (25), destacou em reportagem que o uso do celular ao volante é uma das principais infrações entre os condutores paranaenses. O professor do Departamento de Transportes da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e membro do Conselho Deliberativo do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, Jorge Tiago Bastos, reforçou esse comportamento recorrente entre os condutores com base em um estudo realizado entre as entidades.
SENATRAN APRESENTA RELATÓRIO INÉDITO DE 15 ANOS DE APLICAÇÃO DA LEI SECA
Na última segunda-feira (25), durante o encerramento da Semana Nacional de Trânsito, a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) do Ministério dos Transportes apresentou, em Brasília/DF, o relatório inédito sobre os 15 anos de aplicação da Lei Seca (Lei 11.705/2008), que destaca entre os dados levantados, uma média de oito infrações por hora no Brasil, registradas no sistema nacional de infrações de trânsito. O OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária foi uma das entidades participantes da cerimônia de apresentação do estudo.
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